quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Encanto (Dedicado à Isabela)

Ela é a anti-heroína
Que consulta cartomante
E acredita em evoluções do espírito.
Minha Macunaíma.

Ela é minha identidade,
no meu bolso, nas minhas mãos.
Ela é a felicidade,
contada em toneladas
distribuída de grão em grão.

Ela é minha medéia,
meu anjo, minha salvação.
Ela é meu trago, meu canto,
minha mãe e meu irmão.

Ela é o esporro curto,
um tiro atravessado
como voz não editada
que a garganta confessou.

Ela é meu devaneio,
Meu antes, meu depois.
Meu primeiro.

Cartas extintas

Cartas de emprego
Cartas de empregados
Cartas cortadas
Em planos cartesianos
Distintos, desregrados.

Cartas extintas
Marcadas à tinta
Caídas, nos cantos.
Em nuvens no céu.
Eu sou a carta não lida,
Pra cada alma,
um destinatário fiel.

Literatura

A literatura
A livre criatura
Depois que se cria
A obra vive por si mesma.

A literatura
A litros de distância
Livros não lidos
Palavras ditas
Silenciosamente
Na dependência de cada olhar.

A literatura
está antes do nada
Entre o zero e o um
Cada qual com cada ser
Não há denominador comum.

Humanidade.

Para mim,
é um mistério.
A maldade
O monge
O igual
E o contrário
Tudo ao mesmo tempo.
Para mim,
é um sacrilégio.
Amar e não corresponder
Ensinar o selvagem a ler.
Para mim,
a humanidade
é um mistério.

Ao meu grande Amor

Ao meu grande Amor
Escrevi seu nome
No meu peito
Sem tinta nenhuma
Sem palavra alguma
Mas está cravado lá
Em algum lugar
Eu sei que está
Ao meu grande Amor
Isabela
O nosso fim,
não imagino.
Porque estamos
apenas começando.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Desigual

Nada e ninguém
Duas palavras que agora ele tem
quando resolveu encarar a verdade.
Nas ruas, nas fachadas, nos bares
Tudo é festa
E na madrugada
É tudo que lhe resta
Chorar até esperar mais um carnaval
Nada e ninguém
Duas palavras que soam bem
Desse lado ocidental
Nas enxurradas, na terra lavada
Copos de vodka e comida enlatada
E tudo é festa
Tudo que resta
na madrugada.

Deus

Esmola
Morte
Cobiça
Traição
E Deus atado, sem muita opção.

Drinks
Dilemas
Mil palavras
Mil poemas
Uma bala mirando direto no coração
E você ajoelhado, esperando a salvação

Estupro, fome
Droga e aborto
Quem não sonha
provavelmente já está morto.

Tem dois olhos chorando
E não sei onde me escondo
Um pastor em cada esquina
Pra um mundo tão redondo
Tem uma boca calada
Querendo dizer muito
E não falando nada
Cheia de sonhos nobres
E ideais plebeus
Lendo bíblias orientais
Descrevendo o mesmo Deus.

Céu

Eu sei que o céu me espera
Chega de pipoca, chega de primavera
Não tem mais balanço,
Não tem música pra tocar
Só o cheiro de enxofre
Dominando o ar

Eu sei que o céu me espera
Já comprei o meu lugar
Paguei pro pastor poder me levar
Eu sei que o céu me espera
Já comprei meu lote
Sou vizinho do Maluf
E também do Dom Quixote

Eu sei que o céu me espera
Não há como mais voltar
Meu caminho é só de ida
Vendi minh'alma pra pagar...